... e ele parou de sonhar. Colocou o anel na mão esquerda da solidão. Não que isso fosse de todo mal. O isolamento e a rotina lhe agradam, até certo ponto. Medida esta que sempre extrapola, porem não lhe convém demostrar fraqueza como um novato numa mesa de poker cheia de tubarões. Sempre viveu a margem dos grupos dos quais achava estar inserido. Turma da cerveja - e futebol por osmose -, turma do rock, turma da pegação ... OPS! Isso nunca existiu. Todos esses pequenos nichos da sua vida parecem menores após a falsa maturidade que os anos lhe trouxeram.
O quitinete, anteriormente cheio (lê-se 3 pessoas num quarto), não vê uma pessoa pessoa diferente do dono da cama de solteiro há tempos. As panelas, pratos e talheres estão limpos e guardados no armário a mais de um mês: todos tem preguiça de cozinhar para si mesmo. A sanduicheria do seu bairro está ampliando as instalações graças ao seu melhor cliente. A escada que finda próximo ao parque público ficou bem maior ao longo dos meses, por motivos óbvios. E outra, o parque já não é tão verde e as meninas se tornaram mulheres flácidas. Prá quê ir ao parque, né!?
A vaidade foi para a vala, junto com o dinheiro da prestação do ventilador de teto. Aderiu ao rótulo inteligência é afrodisíaco", porém suas últimas leituras se resumem a notícias zipadas na folha.com. As lâminas de barbear estão lacradas, contudo ele não consegue ser cool como os caras daquela banda que tocava "Aline". Conseqüentemente, paga de Clint Eastwood do cerrado e se diz feliz como um lobo solitário no deserto do Texas, todavia sem o charme da trilha de "o bom, o mal e o feio" ao fundo da sua vidinha mais ou menos.
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